Após seis anos na Som Livre, a especialista vem se destacando empresas de gerenciamento de carreira e agência de talentos nos Estados Unidos, mostrando que o ambiente predominantemente masculino também reserva oportunidades para mulheres
Foto: Lara Guinle
A presença feminina na indústria da música, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, tem enfrentado desafios, com avanços pequenos, porém significativos. A cada ano, as estatísticas mostram que as mulheres estão cada vez mais conquistando espaço e visibilidade em um setor tradicionalmente dominado por homens, ainda que os números revelem a persistência de uma disparidade de gênero preocupante.
Lívia Peixoto, uma proeminente figura da música brasileira, que atua nos bastidores, destaca essa realidade. "Muitas vezes sou a única mulher em reuniões, o que pode ser isolador”, diz a gerente musical com foco em marketing e turnês de artistas.
Nascida em Niterói, Rio de Janeiro, Lívia decolou profissionalmente na Som Livre, onde contribuiu para artistas brasileiros, consolidando-se como uma das principais profissionais em ascensão na indústria musical.
Radicada em Los Angeles, já integrou a equipe de uma das maiores agências de talentos do mundo, a WME Music (William Morris Endeavor), solidificando ainda mais sua posição como uma das principais profissionais do mercado, assim como na XYION Inc., liderada por Adrian L. Miller, onde encontrou a oportunidade de gerenciar artistas como October London, que alcançou o primeiro lugar nas paradas de Adult R&B da Billboard em 2023. Além disso, sua formação em Negócios Musicais pela UCLA, na Califórnia e em Marketing e Relações Públicas pela Escola de Negócios de Bournemouth, Inglaterra, complementa seu perfil de profissional inovadora e bem preparada.
Foto: Lara Guinle
Apesar de seus êxitos, Lívia relata que sua trajetória foi marcada por desafios típicos enfrentados por mulheres na indústria musical. "Sempre há preocupação com a roupa que vou vestir para evitar passar impressões erradas", comenta. "Infelizmente, ser simpática e profissional ainda é interpretado de maneira equivocada por alguns homens com mais poder," completa a profissional.
Os dados corroboram a experiência de Lívia. De acordo com um estudo da Escola Annenberg da Universidade do Sul da Califórnia, de 2019, as mulheres ocupavam apenas 11,7% dos cargos em gravadoras, 22,2% em editoras, 7,1% em serviços de streaming, 6,7% na música ao vivo e 20% em rádios nos Estados Unidos. Esses números destacam a sub-representação feminina em cargos sênior e executivos na indústria musical.
No decorrer dos últimos anos, as mulheres obtiveram mais oportunidades dentro desse mercado, no entanto, tendo que enfrentar diariamente na pele as atitudes machistas que foram perpetuadas socialmente no passar do tempo.
Foto: Lara Guinle
Conforme a pesquisa de 2019 do DATA SIM e da pesquisa chilena “Mujeres y disidencias en la industria musical chilena: obstáculos, oportunidades & perspectivas”, realizada em 2020 em conjunto com o DATA SIM, a resposta à pergunta “Quais as maiores dificuldades enfrentadas por mulheres dentro da indústria musical?” aponta que no Chile, o fenômeno de “mansplaining” responde por uma porcentagem significativa das queixas (30%). No Brasil, a maior queixa foi o assédio (49%).
Já dados desse ano do ECAD revelam que apesar do discreto avanço em 2023, eles podem ser significativos para impulsionar a conscientização do mercado sobre a importância de ampliar a atuação e contribuição das mulheres. Um dos destaques foi o aumento na quantidade de mulheres contempladas com valores em direitos autorais de música em 2023, em comparação com 2022. O número passou de 25 mil mulheres beneficiadas em 2022 para 29 mil mulheres em 2023.
Outro ponto favorável foi a maior presença de compositoras na autoria das músicas mais tocadas no Brasil em 2023, em comparação com o ranking de 2022. Das 20 músicas mais tocadas em shows no ano passado, cinco delas possuem mulheres em sua autoria, o que representa 25% das canções do ranking. Em 2022, elas estiveram presente na autoria de três músicas.
Para a superintendente executiva do Ecad, Isabel Amorim, esse estudo joga luz sobre a representatividade da mulher no mercado da música e possibilita que toda a sociedade tenha um momento para refletir sobre a importância de oferecer equidade de condições para que as mulheres possam ocupar cada vez mais espaços. “A presença feminina na indústria musical inspira e incentiva a próxima geração de artistas. Quando as mulheres assumem papéis de destaque como ícones musicais, produtoras renomadas e até líderes de empresas do mercado, elas se tornam modelos a serem seguidos, demonstrando que o sucesso na música não conhece barreiras de gênero. Isso encoraja jovens talentos femininos a perseguirem seus sonhos e desafia as normas de uma indústria que, em alguns momentos, foi dominada por figuras masculinas”, afirma.
É o caso de artistas como Marília Mendonça, Maiara & Maraisa, Anitta e Ludmilla que provam que as mulheres podem alcançar patamares elevados na indústria e ainda servirem de exemplos inspiradores que mostram a força e o talento das mulheres na música.
A trajetória de Lívia Peixoto é também um exemplo de perseverança e inovação, e sua história inspira muitas outras mulheres a seguirem seus passos e a lutarem por um espaço mais equitativo na música.
Segundo Livia, quando se trata de profissionais que trabalham nas empresas de música, nos escritórios dos artistas, até nas estradas acompanhando os artistas em shows e turnês, a presença feminina ainda é menor, especialmente em posições de liderança. “No entanto, também temos visto muitas mudanças nos últimos anos. Mulheres que admiro muito e que me inspiram estão alcançando cargos altos e fazendo a diferença na indústria. Esse assunto tem sido cada vez mais pauta em eventos de música, em painéis importantes, e é encorajador ver essa evolução”, afirma.
“Apesar dos avanços, as dificuldades permanecem. Como mulher, sinto que precisamos nos dedicar o dobro para provar nosso valor", ressalta Lívia Peixoto. "É necessário mostrar constantemente que estamos ali pelo nosso talento e competência e não por nossas características físicas", afirma.
“Contudo, acredito que estamos no caminho certo e que, com o tempo, veremos mais mulheres não apenas alcançando grandes feitos como artistas, mas também liderando e moldando a indústria da música de forma mais equitativa”conclui Lívia.
Foto: Lara Guinle
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