Dublador fala do sucesso do filme “Super Mario Bros”, do processo de criação da voz brasileira do personagem, além de outros trabalhos em dublagens e no teatro
Quando “Super Mario Bros – o filme” estreou nos cinemas, muita gente adorou ver a familiaridade da voz de um dos personagens mais famosos do mundo com o que se via nos jogos. O sotaque caricato com um italiano carregado bem característico dele estava lá. Todo o sucesso do filme, que superou a marca de 1 bilhão de dólares de bilheteria no mundo, fez com Raphael Rossatto, a voz brasileira do Mário, ficasse muito agradecido as várias mensagens de carinho que tem recebido dos fãs do encanador mais famoso dos games.
- O convite para dublar o Mário surgiu primeiramente porque o ator que faz a voz original dele no filme é o Chris Pratt que eu dublo no Brasil desde “Guardiões da Galáxia”. Porém tiveram testes com outros dubladores e não foi só porque eu o dublo que eu consegui, a Nintendo junto a Universal e a Illumination acabaram escolhendo a minha voz dentre as outras que foram testadas, fiquei muito feliz por isso – diz.
Raphael fala sobre como foi o processo para a criação da voz do encanador e como fez para achar o tom certo.
- O processo da dublagem foi normal, tirando o fator do sotaque e a voz do Mário que é mais caricata. Eu e o Manolo Rey, que dubla o Luigi, conversamos, antes do teste, sobre a voz que eu faria para o personagem, o Chris Pratt fez uma mais neutra, bem parecida com a voz natural dele, durante o teste a gente conversou e decidiu por fazer a voz o mais parecido possível com a que todos conhecem no Brasil e no mundo através dos games, que é feita por Charles Martinet. Buscamos fazer algo, até como forma de homenagem, a ele e aos fãs de Mário como eu (rs), queria fazer um trabalho de fã para fãs. Me coloquei no lugar de expectador, então procurei fazer uma coisa que eu ia gostar de assistir no cinema – revela.
Rossatto estudou bastante em casa para chegar à voz mais próxima da conhecida por todos, teve dias que ficava falando que nem o personagem, em casa mesmo, para naturalizar a voz na hora da dublagem.
- A maior dificuldade foi procurar o tom da voz, o sotaque, porque é muito difícil você segurar um sotaque o filme inteiro e não ficar caricato. Foi um trabalho bem minucioso, a gente foi estudando fala por fala para buscar o tom certo, a entonação do sotaque de forma que ficassem todas diferentes, mas que o sotaque estivesse ali. Me preparei com estudo em casa, vendo filmes e séries em italiano, falando como Mário o maior tempo possível para tornar tudo natural pra mim. Pois como é uma voz um pouco mais caricata com sotaque o tempo inteiro, então não seria muito natural eu chegar na hora e não conseguir fazer – relata.
Ele fala da responsabilidade em dublar um dos personagens mais famosos do universo pop mundial.
- Senti o peso desde que fui dublar o primeiro teaser, que eu fiz antes do filme, quando ele saiu eu não gostei, apesar de todos terem gostado e elogiado a dublagem, eu mesmo não curti, pois sou muito crítico com o meu trabalho, eu sabia que podia ficar melhor. Estudei muito até o filme, eu ficava em casa estudando as entonações, o sotaque. Depois dublei todo o longa e não tive acesso a ver antes (rs), então fiquei desesperado, com frio na barriga, tremendo, ansioso, porque não sabia como tinha ficado. Sabia que essa pressão em cima da dublagem ia ser enorme, até porque as pessoas já haviam gostado desde do teaser, inclusive os norte-americanos elogiaram muito a nossa dublagem mais que a original. Isso aumentou a vontade de fazer um bom trabalho, pois a expectativa estava muito alta – conta.
O dublador ainda fala sobre os dubladores anteriores do personagem.
- No Brasil, o dublador anterior foi o Antônio Patino que o dublou a série que tinha nos anos 80, início dos 90. Infelizmente não o conheci, mas admiro muito o seu trabalho, era uma proposta diferente, naquela época o Mário foi colocado como um personagem bem mais velho. A voz original, no mundo, é do Charles Martinet, que eu não tive a oportunidade de conhecer, mas estou vendo com o pessoal da edição 2023 da “Brasil Game Show”, onde ele vai estar esse ano, a possibilidade de ir para conhecê-lo. Além dele, as vozes originais do Bowser e da Princesa Peach estarão lá, eu como fã ficaria muito feliz se acontecesse esse encontro – anseia.
Ele fala em como Mário apareceu pela primeira vez na sua vida, a relação com ele antes de se tornar a voz do encanador e o que dublá-lo representa para ele.
- Dublar o Mário significa tudo. Como gamer e geek que sou é uma emoção indescritível porque é um personagem que foi, e é, muito importante na minha vida. Até hoje eu jogo Mário, ganhei do meu pai o meu Super Nintendo quando tinha 5 ou 6 anos. Lembro dele chegando com a caixa do vídeo game que tinha os jogos “Super Mario World” e “Super Mário Allstars”. Desde cedo me familiarizei com o seu mundo e nunca mais parei, jogava o Nintendo 64 em locadoras de games, na casa de amigos, depois tive outros games da Nintendo e ele sempre esteve presente. É um personagem muito importante pra mim, e pra todos os gamers, é uma figura que todos conhecem, mesmo quem não joga. Ver as crianças saindo do cinema extasiadas, querendo jogar Mário, é muito gratificante – relata o ator que ostenta há anos uma tatuagem de estrela em um dos ombros com o chapéu do Mário, tamanho o seu amor por ele.
Raphael dubla há 13 anos, o seu primeiro trabalho foi fazendo as partes musicais do filme “Enrolados”, de 2010, como a voz do personagem Flynn Rider.
- Dublei o senhor das estrelas do “Guardiões da Galáxia”, que estreou nos cinemas, também fiz a voz do Kristoff do “Frozen”, o Flynn Rider de “Enrolados”, nesse eu canto as músicas, dublo o Sandman da série “Sandman”, dublei o Augustus Waters de “A Culpa é das estrelas”, o Will Traynor de “Como eu era antes de você” entre outros. Além disso, também fiz o filme do “Sonic”, então posso dizer que “zerei” a vida duas vezes (rs), pois estou nos filmes de duas das maiores franquias de games, nele eu dublei o Tom Wachowski que é quem acolhe o Sonic e o ajuda na sua jornada – vibra.
Além de dublador, Rossatto também é ator já fez diversos musicais de sucesso.
- Fiz “Godspell – o Musical”, produzido pelo CEFTEM, onde eu fiz Jesus, fiz “Tudo por um pop star”, uma obra adaptada do livro da Thalita Rebouças, realizado pela Aventura Entretenimento, eu fazia um dos protagonistas o Slack Tom Tompson, estive no elenco de “60 – Doc Musical”, da BrainMais, entre outros – diz.
Ainda pequeno, Rossatto, que hoje tem 35 anos, já se via dentro do universo do entretenimento, já que sua família era de circo e ele nasceu e viveu até os 20 anos lá.
- Nasci e vivi no circo até meus 20 anos, fazia toda a parte teatral, acrobacias, atirava facas, vendia pipoca, algodão doce, todos os trabalhos nele. Era uma vida bem agitada e completa, o circo foi quem me preparou e me deu base artística para a minha vida – complementa o carioca nascido no bairro de Vila Isabel, o circo estava passando por lá na época.
Hoje, além das dublagens e dos espetáculos teatrais, ele também mantém o canal no youtube “Eu Dublei”, que soma mais de 5 milhões de visualizações.
- No meu canal geralmente falo muito dos personagens que fiz, de como foi o processo de gravação de alguns trabalhos, às vezes coloco alguns clipes de músicas que gravei na dublagem em suas versões completas. É uma extensão do meu trabalho e algo que me mantem conectado com o público - completa.
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