O Maestro brasileiro radicado nos EUA Lehninger, vai reger OSB em comemoração dos 85 anos da Orquestra.
- Redação
- há 5 dias
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Foto: Andy Terzes
Longe dos palcos cariocas por sete anos, Marcelo Lehninger rege o concerto de abertura da série comemorativa dos 85 anos da OSB
Distante desde 2018 dos palcos brasileiros, o regente carioca radicado nos Estados Unidos e com sólida carreira internacional, Marcelo Lehninger estará à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), no concerto de abertura da série que festeja os 85 anos de existência do conjunto, no dia 29 de abril, no Theatro Municipal do Rio.No programa, nada menos que a Sinfonia nº 5 em dó sustenido maior, de Gustav Mahler, com sua atmosfera de luz e sombra.Lehninger vai conduzir a orquestra e a plateia por este mar sonoro, que vai do desespero, da dor e das sombras à genuína alegria no rondó final, passando antes à introspecção poética e amorosa do adagietto, tão adorado pelo público. Ótima maneira de dar fim ao jejum de sete anos de Lehninger – a última vez que ele se apresentou na cidade foi com a Orquestra do Theatro do Municipal do Rio com Nelson Freire como solista.
O reencontro de Lehninger com a OSB é desejo antigo. Dele e do diretor artístico da OSB, Nikolay Sapoundjiev. Mas, por questões de agenda, só agora o encontro foi possível. Ele não esconde a satisfação de celebrar, em concerto, os 85 anos da OSB e explica o carinho que têm pelo conjunto: " A OSB é a orquestra da minha cidade. Cresci ouvindo esta orquestra. E já vivenciei diversos momentos com ela. Nem podia ser diferente meus pais – a pianista Sônia Goulart e o violinista Erich Lehninger - tocaram com a OSB e o meu querido mentor, Roberto Tibiriçá, foi seu regente titular por anos", fala Lehninger. Segundo ele, as oportunidades poderão sermaiores daqui para a frente. A família - vai se estabelecer no Rio pelos próximos dois anos, para que as duas filhas do casalganhem maior fluência no português e maior proximidade com a cultura brasileira. A mulher, Laura, ficará aqui. Lehninger vai se exercitar na ponte aérea.
Não tem jeito. Ele tem uma série de compromissos assumidos para os próximos anos. Já tem concertos agendados até meados de 2027. Lehninger é diretor musical e regente titular da sinfônica de Grand Rapids (Michigan), instituição quase centenária que já teve diretores musicais como Semyon Bychkov e Nokolai Malko. Ele também é diretor artístico do Bellingham Festival of Music (no estado de Washington, no noroeste dos EUA), que acontece durante o verão norte-americano. A orquestra do festival é formada por músicos dos maiores conjuntos dos EUA. Lehninger implementou, no ano passado, o Conducting Institute, um programa para jovens regentes. Além disso, há planos para a criação de uma orquestra acadêmica e a construção de um novo teatro.
"É um festival em pleno crescimento e o objetivo é que se transforme em uma espécie de Tanglewood ou Aspen na Costa Oeste", conta o maestro que contou com mentores do quilate de Kurt Masur, Mariss Jansons, Leonard Slatkin, além de Roberto Tibiriçá.

Foto: Andy Terzes
Aos 45 anos, Lehninger ostenta um currículo invejável. Além de ser o 14º diretor musical da Grand Rapids, posto assumido em 2016, ele já foi também diretor da New West Symphony, em Los Angeles. Antes disso, foi indicado por James Levine ao cargo de maestro assistente na Sinfônica de Boston, uma das cinco maiores orquestras dos EUA e depois alçado à posição de regente associado, em uma jornada que durou cinco anos. Sua estreia no Carnegie Hall foi fartamente elogiada pela crítica.
"Ele foi fantástico, regendo as três obras com técnica impressionante, visão musical e energia jovem. A orquestra soou ótima", segundo o New York Times.
Ele calcula que já tenha regido mais de 100 orquestras, em diversos continentes. Dividiu palco com um imenso número de solitas estrelados. A começar pelo pianista Nelson Freire, de quem era muito próximo e que foi notadamente uma influência em sua carreira. Mas a lista inclui o violoncelista Yo-Yo Ma, os violinistas Joshua Bell, Pinchas Zukerman, Sarah Chang e os pinaistas Daniil Trifonov e Jean-Yves Thibaudet, entre outros. E, não bastasse, se apresentou como regente convidado em salas como Carnegie Hall de Nova York, Filarmônica de Berlim e Ópera de Sidney.
Volta agora ao afetivo palco do TheatroMunicipal com a igualmente afetiva OSB. Sobre a carreira, bem pavimentada, Lehninger diz: "Eu sempre foquei na música, não me preocupei muito com carreira não. Meu gol sempre foi, e continua sendo, me aperfeiçoar como músico e como ser humano. Gosto de aprender, de descobrir, tenho curiosidade por tudo! Acho que o resto tem que acontecer naturalmente e sempre tomei muito cuidado para que carreira e sucesso não me distraiam."
Sobre a OSB
Fundada em 1940 pelo Maestro José Siqueira, a Orquestra Sinfônica Brasileira é o mais tradicional conjunto sinfônico do país, sendo reconhecida pelo pioneirismo de suas ações: primeira orquestra brasileira a realizar turnês pelo Brasil e exterior, apresentações ao ar livre e projetos de formação de plateia.
As missões institucionais da OSB contemplam a conquista de novos públicos para a música sinfônica, o incentivo a novos talentos e a divulgação de um repertório diversificado, objetivos alcançados em mais de 5 mil concertos realizados durante mais 80 anos de trajetória ininterrupta.
Além de ter revelado nomes como Nelson Freire, Arnaldo Cohen e Antônio Meneses, a OSB também contou em sua história com a colaboração de alguns dos maiores artistas do século XX: Leonard Bernstein, Zubin Mehta, Kurt Sanderling, Arthur Rubinstein, Martha Argerich, Kurt Masur, Claudio Arrau, Mstislav Rostropovich, Jean-Pierre Rampal e José Carreras, dentre outros.
Sobre a Quinta Sinfonia de Mahler
Escrita entre 1901 e 1902, a obra teve estreia dois anos mais tarde, em Colônia, com a Gürzenich-Orchester Köln regida pelo próprio compositor. É, até hoje, a sinfonia mais conhecida e mais emblemática de Mahler, que vivia um momento profícuo e extremamentetrabalhoso à frente da Filarmônica de Viena. No campo pessoal, o compositor experimentava a paixão e o amor por uma mulher 19 anos mais nova que ele: Alma Schindler, que viria a se tornar a senhora Mahler e a quem o famoso adagietto, uma verdadeira declaração de amor, foi dedicado.
Organizada em cinco movimentos, porém dividida em três partes, a Quinta de Mahler oferece uma jornada da sombra á luz. Por conta de seu trabalho extenuante, Mahler ficou seriamente doente em 1901. Inevitável, para um espírito angustiado como o dele e propenso a profunda reflexões, que a morte, recorrente em seus pensamentos, não estivesse presente. A sinfonia começa com uma marcha fúnebre e termina com um rondó arrebatador. O a adagietto, o andamento lento, é uma das composições mais famosas e queridas do docompositor. Ganhou ainda mais notoriedade ao embalar a trama do filme Morte em Veneza (1971), do diretor italiano Luchino Visconti, baseado no livro de Thomas Mann. O scherzo, para Mahler, era o movimento mais importante. Mais longo, oferece uma mistura de melodias, incluindo valsas e Ländler (dança tradicional da Baviera). O finale, feérico, funde o carátersombrio dos primeiros dois movimentos com a alegria dos últimos.
SERVIÇO
• Marcelo Lehninger, regência
• Programa: Quinta de Mahler
• 29 de abril de 2025, 19:00 – 20:00
• Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Praça Floriano, S/N – Centro
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