A carreira multifacetada do ator Roberto Birindelli, originário do Uruguai e atualmente residente no Brasil, é marcada por uma variedade de experiências que o levaram a se considerar um estrangeiro em diversas esferas da vida. Seu envolvimento em produções cinematográficas internacionais, como "Gauguin e o Canal" e "As Vitrines", ilustra essa diversidade e profundidade de sua atuação.
Em "Gauguin e o Canal", Birindelli assume o papel principal interpretando as angústias do pintor Paul Gauguin, navegando habilmente por um cenário multilíngue, o que reflete sua própria jornada de vida desde sua infância em Montevidéu até sua residência no Brasil. Dirigido por Frank Spano, o filme recebeu reconhecimento em festivais internacionais, destacando a luta interna de Gauguin entre a razão e a loucura.
Além de sua carreira no cinema, Birindelli traz consigo uma vasta trajetória, desde seus estudos em arquitetura até sua incursão em empreendimentos industriais, antes de se dedicar inteiramente à arte da interpretação. Sua transição para a televisão foi marcada por papéis memoráveis, culminando em participações notáveis, como na série "Dom".
A carreira teatral de Birindelli também é digna de nota, com participações em produções de renome internacional, como "Il Primo Mirácolo". Seu mais recente trabalho no cinema, "As Vitrines", dirigido por Flávia Castro, oferece uma oportunidade para o ator explorar suas raízes latino-americanas, mergulhando na infância da diretora durante os turbulentos anos da ditadura militar no Chile.
Este filme faz parte de uma trilogia iniciada por Castro em 2011 e proporciona a Birindelli uma plataforma para refletir sobre sua própria jornada de migração e identidade cultural, consolidando ainda mais sua posição como um dos talentos mais versáteis e respeitados da indústria cinematográfica.
Confira nossa entrevista com Roberto Birindelli:
Como foi sua preparação para interpretar Paul Gauguin no filme "Gauguin e o Canal"?
A preparação para o papel foi uma experiência única. Primeiramente, houve a desafiadora experiência de filmar por 40 dias no Panamá, incluindo locações na selva, durante a pandemia, o que por si só foi uma aventura. A preparação para o filme ocorreu simultaneamente às gravações da novela "Nos Tempos do Imperador" na Globo. Roberto Birindelli ensaiava remotamente com o diretor, Frank Spano, que estava em Madri. Além disso, ele recebia aulas de pintura no estilo de Gauguin via Skype com a diretora de arte, que estava em Chicago. Para aprimorar suas habilidades linguísticas, Birindelli também frequentava aulas de francês online na Aliança Francesa do Panamá, pois Gauguin, embora francês de nascimento, foi alfabetizado em espanhol no Peru, onde residiu com a família na infância. Essa preparação multilíngue e técnica foi essencial para a construção do personagem e sua imersão na história.
O longa estreou em Valladolid e recebeu reconhecimento em festivais internacionais, como o de Salerno, onde ganhou o prêmio de Melhor Filme. A experiência de interagir com profissionais de diversos países e com o público nos Estados Unidos, durante a exibição no Festival Latino de Chicago, foi enriquecedora e surpreendente. Recentemente, o filme também foi apresentado na Mostra de São Paulo e no LABRFF, em Los Angeles, e Birindelli espera continuar compartilhando essa jornada cinematográfica.
Em "As Vitrines", filme dirigido por Flávia Castro, você revive uma história semelhante à dela durante a ditadura militar. Poderia compartilhar um pouco sobre esse papel e sua conexão com a realidade?
Este papel representa meu primeiro personagem uruguaio em 50 filmes, sendo uma experiência profundamente pessoal. Eu vivenciei de perto o golpe militar em Montevidéu, residindo próximo ao Palácio de Governo. Estava presente na praça no dia do golpe, testemunhando o caos e a violência. Durante as filmagens, tanto nos ensaios quanto nas cenas, a diretora Flávia Castro e eu trocávamos mais silêncios do que palavras, entendendo intuitivamente as nuances da história e os pontos sensíveis a serem explorados. O filme, infelizmente, permanece atual, abordando questões como fundamentalismo religioso e crimes contra a humanidade, vistos através dos olhos de uma criança de 10 anos. Participar desse projeto foi uma das experiências mais impactantes de minha carreira.
Sua colaboração com o diretor Aly Muritiba é de longa data?
Sim, minha parceria com Aly Muritiba remonta a alguns anos atrás. Enquanto filmávamos "O OLHO E A FACA", de Paulo Sacramento, passamos 12 dias imersos na vida em uma plataforma de petróleo, compartilhando não apenas o trabalho, mas também experiências de vida. Durante esse período, fui apresentado ao livro "Barba Ensopada de Sangue", de Daniel Galera, cuja adaptação cinematográfica estava sendo roteirizada por Aly. Desde então, mantive-me interessado no projeto e, posteriormente, tive a oportunidade de participar. A colaboração com Aly e também com Sérgio Machado na série "IRMÃOS FREITAS" são parcerias que considero valiosas e duradouras.
Em "Jogo Cruzado", nova série da Star +, você interpreta um treinador de futebol contracenando com José Loreto e Carol Castro. Você se inspirou em algum profissional do futebol para compor seu personagem?
Trabalhar com Pedro Amorim e Maria Farkas, os diretores da série, foi uma experiência muito gratificante. A parceria com José Loreto é antiga, e contracenar com Carol Castro foi uma surpresa muito bem-vinda. Juntos, formamos um trio dinâmico que promete muitas emoções ao público. Em relação à composição do técnico Ernesto, busquei inspiração em figuras como Luiz Felipe Scolari, Jorge Sampaoli e Vanderlei Luxemburgo, trazendo elementos de suas personalidades e métodos para o personagem.
Paralelamente à sua carreira como ator, com mais de 55 filmes e várias novelas, você também é professor de teatro e empreendedor. Como é ser uma pessoa multifacetada?
Ser multifacetado significa carregar cicatrizes de diversas experiências, criando um mosaico de vivências e aprendizados. Nascido em uma família com poucos recursos, desde cedo trabalhei ao lado de meu pai em uma pequena fábrica. Durante meus estudos, que incluíram arquitetura e artes cênicas, também empreendi, tendo participado de negócios como uma fábrica de implantes de silicone e outra de Equipamentos de Proteção Individual. Paralelamente, ministrei palestras sobre segurança e saúde no trabalho em centenas de empresas. A paixão pelo teatro sempre esteve presente, e dei aulas em diversas cidades brasileiras. Recentemente, com minha mudança para o Rio de Janeiro, a televisão se tornou uma presença mais constante em minha vida.
Quais são seus próximos projetos no cinema?
Atualmente, estou captando recursos para dois longas-metragens e espero lançar comercialmente "Gauguin y el Canal", uma produção espanhola e panamenha. Além disso, estou empenhado em viabilizar uma série que estou escrevendo, bem como um projeto para um centro cultural na Gávea.
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