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Representatividade Trans: A Jornada de Isis Broken


Foto: Guilherme O’Doro Stylist: Felipe Chianca


Isis, como você se sente fazendo parte de um momento histórico na TV brasileira com a presença de pessoas trans em todas as novelas?


Eu estou muito feliz e honrada por fazer parte de tudo isso, a Corina pra mim é um presente, ela tem uma potência muito forte, principalmente pela sua narrativa de não ser uma mulher trans, não me restringindo apenas a interpretar personagens nesses corpos. E tudo isso está sendo muito revolucionário, sendo bonito de acontecer. Um grande momento na minha carreira, está levando essa representação para a comunidade trans.


Pode nos contar um pouco sobre sua personagem Corina Castello na novela "No Rancho Fundo"?


Eu costumo dizer que a Corina Castello é uma mini vilã carismática, que não mede esforços quando se fala em sobrevivência, às vezes faz uma artimanha para se sobressair alguém, mas, é uma questão de sobreviver. Ela foi uma mulher muito castigada, mas agora quer ser uma mulher de luz. A Corina tem muito de mim, sempre vivi muito ao limite para resistir e sobreviver.

Qual foi a sua reação ao ser escolhida para este papel em "No Rancho Fundo"?


Senti uma alegria imensa e muito realizada. Essa oportunidade foi muito significativa, pois me permitiu trazer minhas referências e raízes nordestinas para o papel. Além disso, foi um passo crucial na luta contra preconceitos, demonstrando que pessoas trans podem, sim, ocupar todos os espaços como artistas.


Como tem sido a recepção do público ao seu trabalho na novela?


Está sendo incrível receber tantas mensagens carinhosas do público. As pessoas destacam como a Corina é revolucionária por fazer parte deste momento histórico na televisão brasileira e pela representatividade dos corpos trans. Ver essa repercussão tão positiva me enche de alegria!

Você pode compartilhar um pouco sobre sua jornada pessoal como mulher trans e afro-indígena no Brasil?


Minha jornada como mulher trans e afro-indígena no Brasil tem sido uma trajetória de descobertas, desafios e também de muita resiliência. Desde cedo, aprendi a enfrentar os obstáculos impostos pela sociedade, lutando não apenas pela minha identidade, mas também pela aceitação e pelo respeito dos outros.

Ao longo dos anos, busquei me empoderar através da minha arte e da minha voz, usando minha plataforma para ampliar a visibilidade e promover a inclusão de pessoas trans. Enfrentei muitos preconceitos e discriminação, que frequentemente limitaram meu acesso a oportunidades e reconhecimento pelo meu trabalho. No entanto, não desisti dos meus sonhos. Levei a representação das minhas raízes em todos os projetos que realizei, mostrando os talentos e culturas das minhas origens que muitas vezes são desvalorizados. Ser verdadeira comigo mesma foi fundamental para alcançar este espaço e reconhecimento artístico.


Quais desafios você enfrentou ao longo de sua carreira até chegar a este papel na Globo?


Quando comecei na música, enfrentei muitas recusas de produtoras, mas minha persistência e determinação falaram mais alto. O videoclipe que produzi com o celular para o ‘Clã’ ganhou notoriedade, rendendo-me 27 prêmios nacionais e internacionais. E com ele mostrei a minha nordestinidade, fazendo referências ao meu estado de Sergipe que tem a sua arte pouco valorizada e percebi a necessidade de mudar essa realidade. Permaneci nesse caminho, mostrando cada vez meu trabalho com a música e com uma forte atuação nas redes sociais. Com isso, surgiu a oportunidade de atuar como ‘Mateusa’ em ‘Histórias Impossíveis’, a convite da Globo, fiz meu curso de atuação, e cheguei onde estou hoje.

Como você vê a representatividade de pessoas trans na mídia brasileira hoje em dia?


Vejo avanços significativos na representatividade de pessoas trans na mídia brasileira. Hoje, vemos pessoas trans em todos os horários de novelas da Globo, por exemplo, é um momento único na TV brasileira. Há uma crescente visibilidade e reconhecimento de talentos trans em diversos campos, o que é crucial para combater estereótipos e promover uma representação mais autêntica e inclusiva. No entanto, ainda há desafios a enfrentar, como garantir que essas oportunidades sejam acessíveis e que as vozes trans sejam ouvidas de maneira genuína e respeitosa em todos os níveis da indústria.


Que mudanças você gostaria de ver na indústria do entretenimento em relação à inclusão e diversidade?


Eu gostaria que num futuro próximo, nossos corpos trans tenham mais espaços nas telinhas brasileiras, com papéis grandes na televisão, no cinema, novelas, séries e filmes. Além disso, que possamos permanecer com representatividade nesses espaços, crucial para a visibilidade e a valorização dos corpos trans.

Quais são os próximos passos na sua carreira após "No Rancho Fundo"?


Este ano, tenho alguns projetos em andamento, como o documentário sobre o nascimento do meu filhe, Apolo, fruto de um relacionamento transcentrado, no qual meu marido, que é um homem trans, engravidou, e que conta com a co-direção da Tainá Muller. Também estou produzindo meu segundo álbum, chamado “Orquestra Sinfônica das Cachorras de Rua”, explorando o meu lado mais sensual, e as minhas experiências no sudeste do país. E vem outros trabalhos em filmes, que ainda não posso falar muito.


Que mensagem você gostaria de deixar para jovens trans que sonham em seguir uma carreira nas artes?


Gostaria de transmitir a mensagem de que vocês têm o poder de alcançar seus sonhos e se destacar naquilo que amam. Persistam com determinação, confiem na sua voz e na sua autenticidade. Estudem e se dediquem em sua profissão. Utilizem sua arte como uma poderosa forma de expressão e de transformação social. Não se deixem intimidar pelas barreiras do preconceito que possam surgir no caminho; ao invés disso, unam-se e lutem pelos nossos direitos.

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