Um dia, encontrei uma vizinha na rua e ela começou a conversar comigo. Na primeira oportunidade, mencionei minha pressa. Ela então disse: "Você está sempre correndo, é sempre assim que te vejo." Ela nem sabe, mas essa fala ecoa em mim há mais de um ano. Fez-me refletir sobre a pessoa que não desejo ser e a vida que não quero ter.
Viver com pressa e desconectado é perigoso. Sei que nem sempre é possível desacelerar, mas será que nunca é possível? Ou nós nos adaptamos a um estilo de vida que gera adoecimento sob a justificativa de perseguir nossos objetivos, afinal, foguete não tem ré.
É gratificante realizar sonhos e alcançar grandes objetivos, mas isso não pode custar nossa saúde mental ou nossas relações. Realizar é ainda mais significativo quando compartilhamos com outros. Mas como fazer isso se, de forma descuidada, nos desconectamos do outro, do mundo e, por vezes, de nós mesmos?
Todos precisamos pertencer, sentir-nos acolhidos e amados. Vez ou outra, por mais autossuficiente que você possa ser, precisará de um abraço, uma escuta, um cuidado e talvez de uma ajuda. E vez ou outra, terá a oportunidade de oferecer essas coisas. Quando acontecer, não recue, a não ser que esteja sendo desrespeitado.
Talvez você esteja correndo sem saber por quê, sem entender o quanto isso faz sentido para você, apenas porque aparentemente todos estão nessa corrida. Se for o seu caso, saiba que está desconectado de si mesmo, mas fique tranquilo, isso não é uma sentença.
As redes sociais contribuem muito para essa desconexão do que é real e do que verdadeiramente importa. É um meio onde muitos se escondem, criam personagens e nutrem a ideia de serem admirados por inúmeras pessoas que curtem seu conteúdo, gerando a falsa sensação de ter muitos amigos, que por vezes não são amigos de ninguém. Além disso, há a nocividade da comparação, onde todas as vidas parecem ser perfeitas, tornando a vida real cada vez mais caótica, com disputas e julgamentos incessantes.
Precisamos recalcular a rota, voltar a olhar para o lado, para quem caminha ao nosso lado. Isso só é possível estando no presente, sentindo o que acontece, não correndo desenfreadamente ou preso a uma tela de celular.
Equilíbrio sempre. Equilíbrio sempre.
Texto de Fernanda Peixoto, psicóloga clínica CRP: 04/45842
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