O Museu A CASA do Objeto Brasileiro realiza a exposição "A CASA NA MODA", uma imersão no universo da moda brasileira que explora as fascinantes narrativas colaborativas entre moda e tradição artesanal brasileira, apresentadas por meio das criações de renomados artesãos e estilistas.
Com curadoria de Renata Mellão e Sonia Kiss, diretora presidente e diretora do Museu A CASA, a exposição " A CASA NA MODA " apresenta parte do acervo de moda brasileira, construído ao longo dos 27 anos de história da instituição. O evento ocorrerá de 16 de março a 19 de maio de 2024, na sede do museu, situada na Av. Pedroso de Morais 1216, em Pinheiros, São Paulo.
Serão apresentadas 17 criações assinadas pelos estilistas Adriana Barra, André Lima, Glória Coelho, Karla Girotto, Lino Villaventura, Marcelo Sommer, Reinaldo Lourenço, Ronaldo Fraga, Samuel Cirnansck e Walter Rodrigues, juntamente com as marcas Amapô, Huis Clos e Neon, de Dudu Bertholini.
O projeto expográfico é da autoria do arquiteto Giancarlo Latorraca e da designer Ana Heloisa Santiago.
MODA BRASILEIRA EM EVOLUÇÃO
A REUNIÃO DA CHITA E DA RENDA
A exposição "A CASA NA MODA" sintetiza duas mostras anteriores realizadas pelo Museu A CASA: "A Chita na Moda", inaugurada em 2005, e "RENDA-SE", em 2015.
A exposição "A Chita na Moda", evolução da pesquisa para o livro "Que Chita Bacana", idealizado por Renata Mellão e pelo designer Renato Imbroisi, destacou a chita como um tecido emblemático da identidade nacional brasileira. Uma década depois, a exposição "RENDA-SE", fruto da colaboração entre o museu e o estilista e curador Dudu Bertholini, promoveu o encontro entre designers de moda e artesãs rendeiras de diferentes regiões do país.
Como resultado dessas iniciativas em preservar e promover os saberes tradicionais e contemporâneos que formam o patrimônio cultural das comunidades criativas, a exposição "A CASA NA MODA" celebra a produção manual ao entrelaçar os fios da história e da tradição tanto da chita quanto da renda, manifestações profundamente enraizadas e influenciadas por séculos de história e migração. Ao promover a colaboração entre designers de moda e artesãs rendeiras, a mostra reconhece a significativa contribuição desses elementos para a identidade estética do país refletindo uma herança vibrante e em constante evolução.
TRAMAS DA COLABORAÇÃO
Fruto de colaborações significativas entre os estilistas, as marcas de moda e comunidades artesãs de vários estados brasileiros, a exposição " A CASA NA MODA " valoriza a riqueza da cultura local. Entre os destaques estão diversas organizações e grupos de artesãos que contribuem com sua maestria e tradições para enriquecer o cenário da moda brasileira.
O Clube de Mães de Camalaú, situado no estado da Paraíba, é reconhecido por sua habilidade na produção de peças utilizando a renda renascença. Parte do grupo de artesãs do Cariri paraibano, o clube cria uma variedade de produtos, desde itens de cama, mesa e banho até vestuário, tudo com o intricado trabalho da renda renascença.
Já a Associação para o Desenvolvimento de Renda Irlandesa de Divina Pastora (ASDEREN), localizada em Sergipe, foi fundada no ano 2000 e conta com 120 artesãs em seu grupo. Especializadas na renda irlandesa, produzem uma ampla gama de peças, como panos de bandeja, toalhas, colchas, blusas e vestidos, utilizando técnicas tradicionais que foram reconhecidas como Patrimônio Cultural Brasileiro.
A ONG Caiçara, com sede em Icapuí, no Ceará, é composta por 25 artesãs que se dedicam à produção de peças em renda labirinto. Fundada na década de 1990, a organização cria desde caminhos de mesa e jogos americanos até blusas e vestidos, predominando nas cores branco e bege, e promovendo assim a cultura local por meio de seu trabalho.
A designer e artesã Perpétua Martins, de Fortaleza, no Ceará, é uma figura proeminente no cenário da renda filé. Com mais de 20 anos de experiência, ela pesquisa e utiliza essa técnica em suas criações, destacando-se como pioneira no desenvolvimento do filé colorido, uma interpretação contemporânea dessa tradição artesanal.
A Associação das Rendeiras dos Morros da Mariana, localizada na Ilha Grande, Piauí, é um coletivo composto por 120 artesãs que se dedicam à produção de bijuterias, palas para roupas, apliques e entremeios em renda de bilro. Utilizando uma variedade de materiais e cores, elas mantêm viva essa tradição artesanal há décadas.
Por fim, Elita Catarina Ramos, de Florianópolis, em Santa Catarina, representa a tradição da renda de bilro tramoia. Com mais de 55 anos de experiência, ela e suas colegas do Casarão das Rendeiras produzem rendas de alta qualidade, mantendo viva essa forma de expressão artesanal na região.
CURADORIA DA EXPOSIÇÃO
Formada em Economia, Renata Mellão é referência quando se trata de artesanato no Brasil. Artista por vocação, fundou, em 1997, o Museu A CASA do Objeto Brasileiro, instituição que tem como objetivo contribuir para o reconhecimento, valorização e desenvolvimento da produção artesanal e do design, incrementando a percepção consciente a respeito do produto brasileiro bem como promovendo sua produção cultural.
Atua como consultora de moda e projetos culturais. Foi curadora da sala de moda da exposição "VirandoVinte" na casa das Rosas e da Exposição" Panos" no Sesc Bom Retiro.
A CASA NA MODA
Texto por Regina Galvão
Consultora de comunicação do Museu A CASA
"Parte de duas exposições realizadas pelo Museu A CASA do Objeto Brasileiro estão reunidas em A CASA NA MODA, mostra inaugural da nossa programação de 2024. A primeira delas, A Chita na Moda, estreou em janeiro de 2005, propondo um novo olhar para o tecido símbolo da nossa cultura popular.
Renomados estilistas, como André Lima, Glória Coelho, Karlla Girotto Marcelo Sommer, Reinaldo Lourenço, Ronaldo Fraga, Lino Vila Ventura, Walter Rodrigues, entre outros, criaram modelos com o pano rico em cores e estampas – características desse algodão que vestiu de escravos a Tropicalistas e figura até hoje nos festejos de tradição pelo Brasil.
A Chita na Moda resultou da pesquisa para o livro "Que Chita Bacana", idealizado por Renata Mellão, fundadora do museu, e pelo designer Renato Imbroisi, para resgatar o valor do tecido e contar sua história.
Dez anos depois, em abril de 2015, o A CASA sediou a exposição RENDA-SE, um projeto de 2012, feito entre o museu e o estilista e curador Dudu Bertholini, com o objetivo de promover o encontro entre designers de moda e artesãs rendeiras de várias regiões do país.
As principais comunidades da técnica artesanal mostraram seus preciosos trabalhos em modelos desenhados por estilistas consagrados, reverenciando saberes e fazeres que contribuem para a promoção da identidade brasileira tanto na moda como no artesanato reconhecido como patrimônio cultural. Aliás, é essa a missão do museu desde sua fundação: dar visibilidade à nossa rica diversidade cultural, pois é também por meio da valorização de nossas raízes ancestrais que acreditamos poder construir um futuro melhor.
CHITA
A primeira menção literária sobre a chita e seus padrões coloridos ocorreu no século XII, em um dos livros do filósofo e poeta indiano Hemachandra, conhecido pelas frases impactantes sobre a vida e o amor.
Da Índia, o tecido, estampado por meio de pintura, migrou para a Europa a partir do século XVII, com os tons impressos em blocos de madeira sobre o pano de algodão de trama simples e barata. A produção industrial do tecido, porém, só se iniciaria no final do século XVIII, na Inglaterra, com peças aos milhares.
No Brasil, a chita chegou de navio no século XVII, importada da Índia e da Europa, servindo também de moeda para comprar escravos nas colônias africanas. O pano de algodão estampado, em geral, com motivos florais, era destinado às roupas do povo – os nobres preferiam se vestir à moda inglesa, com modelos pesados e sóbrios.
A Companhia de Fiação e Tecidos Cedro & Cachoeira, inaugurada em 1872, em Curvelo, Minas Gerais, foi a primeira indústria no território nacional a produzir chita em série, permanecendo ativa com essa fabricação até 1973.
Usada na decoração, nas roupas dos trabalhadores e nas das crianças, nos trajes das festas populares, a chita ganhou espaço no dia a dia do brasileiro, sendo hoje considerada um símbolo da identidade nacional.
RENDA
Há, por aqui, rendas de todos os tipos: a de bilro, irlandesa, renascença, filé, chantilly, frivolité. Técnicas e saberes que aportaram no Brasil com os portugueses na época da colonização e também com os imigrantes que povoaram nosso país a partir do século XIX.
Antes restritas aos figurinos dos membros da corte e do clero, as rendas se expandiram para as vestes femininas a partir do século XVII, adornando cabelos, roupas, luvas, lenços, xales, além de peças para a casa.
Feitas de tecido e linhas entrelaçadas, essas formas artesanais conquistaram largo espaço no nosso território ou ficaram limitadas a pequenas áreas. A renda de bilro é um exemplo de técnica difundida em diferentes regiões, tanto nos estados do Nordeste, com relevância no Ceará, como nos do Sul do país, principalmente em Santa Catarina.
Em Sergipe, a delicada renda irlandesa de Divina Pastora é patrimônio cultural registrado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. No Cariri paraibano, a renda renascença, originária de Veneza, na Itália, é uma tradição compartilhada por mulheres de diferentes gerações. O filé, que remete às redes de pesca, é característico do litoral alagoano, confeccionado com cores fortes e vibrantes, como são os barcos, as casas e as festas folclóricas dessa região. Em um mundo globalizado, as rendas salvaguardam conhecimentos e memórias da nossa rica diversidade cultural."
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